terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O discurso do Presidente e a frustração de Guerra Junqueiro

Iniciaram-se as comemorações do centenário da República, através de uma data infeliz…o 31 de Janeiro. Comemora-se uma pequena rebelião de alguns sargentos e soldados que foi imediatamente abafada e que a propaganda republicana, quer agora enaltecer como um acto significativo.
A ausência do sentido do ridículo, é um sintoma de toda da falta de convicção, com que se iniciam estas comemorações, onde vão ser gastos milhões de euros.
O Presidente da República, faz um discurso de circunstância no início destas comemorações. Enaltece o idealismo republicano, recordando o escritor e poeta republicano Guerra Junqueiro.
Recordemos então o que dizia Guerra Junqueiro no limiar da monarquia e analisemos a actualidade das suas palavras, 100 anos depois….
““Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. […] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro […] Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. […] A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos […] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, […] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar…”
Palavras actuais…que são a prova de que o idealismo republicano foi totalmente desprezado pela própria República.
Como se deveria sentir frustrado hoje…esse poeta e escritor português.
Em nome da mentira, o próprio Presidente da República, vem tentar usar os que sonharam e por isso eram idealistas, com o exclusivo propósito de tentar neutralizar todo o descontentamento da sociedade portuguesa, perante um regime que ao longo dos 100 anos, nunca conseguiu unir os portugueses e apenas lhe foi retirando essa essência que é o seu orgulho próprio.
Só novamente unificados, no orgulho pelo nosso passado, poderemos aspirar a ter novamente futuro.
Portugal está em dissolução, porque ainda há esta triste mensagem, de que um regime é mais importante do que o próprio país.
Portugal voltará a ser grande, quando os portugueses voltarem a sentir, que Portugal é a essência que nos une e que teremos de ter um regime político, capaz de preservar o nosso orgulho de sermos portugueses.
E que não mais se estabeleça a confusão, pela presunção de que os portugueses são uns ignorantes…bastará a qualquer de nós, olhar para o lado e para os países da Europa e ver que as democracias europeias estáveis, menos corruptas e mais evoluídas, também são monarquias.
José J. Lima Monteiro Andrade

1 comentário:

  1. No meu Blogue portudo-e-pornada.blogspot.com e também a proósito do discurso de Cavaco, citei igualmente essas palavras de Guerra Junqueiro que escritas há 100 anos retratam o país actual. Ainda bem que não fui só eu que o notei, embora sem a grandeza do que aqui encontro escrito por si. Bem haja quem comigo sente!
    Gil Montalverne

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