quarta-feira, 17 de março de 2010

A mentira preserva a irresponsabilidade…condena os portugueses.

Quatro meses depois das eleições legislativas estão os portugueses confrontados com uma radical de alteração das promessas eleitorais, da imagem pública dos protagonistas políticos e da situação real da nossa economia e finanças públicas.
Ao optimismo do actual Primeiro Ministro, que venceu essas eleições, deu origem à sua incapacidade actual de explicar convenientemente aos portugueses, a necessidade de todos irmos ser penalizados por medidas que nos próximos dois anos, que irão baixar o nível de vida, o nível de confiança, as expectativas de futuro.
A solução mágica do investimento público, foi agora abandonada.
O Estado previdência diminui as suas prestações e reconhece publicamente a sua insustentabilidade.
Sacrifícios exigidos, por quem nos tem facultado meios, para manter uma ilusão de podermos ter um Estado que gasta muito mais, do que devia e do que poderia gastar.
Sacrifícios e pior que isso, uma realidade de caminho de sacrifícios, sem que haja a resolução dos bloqueios crónicos, que estão claramente identificados, que impedem o progresso económico e preservem o equilíbrio financeiro.
Diz-se no discurso oficial de hoje, o sonho não acabou, isto é apenas um interregno que nos é imposto.
Persiste a mentira.
Os partidos políticos assumem a exclusividade da responsabilidade.
O PEC, Plano de Estabilidade e Crescimento, é o instrumento da penalização e da mentira.
Ele apresenta as medidas que originam e impõem os sacrifícios, mas não aponta nenhum caminho de mudança que nos permita verificar, aspirar ou sequer sonhar, com um futuro melhor.
Cortam despesas do Estado, cortam-se regalias e benefícios dos portugueses, cortam-se os investimentos públicos, privatizam-se empresas deficitárias, mas não se criam as condições para o investimento privado, nem para o estímulo empresarial.
Assim é uma condenação.
Uma condenação à pobreza, uma condenação de um sistema económico falido, uma condenação do Estado previdência, uma condenação a um nível insuportável do desemprego, uma condenação de uma sociedade, sem uma única palavra de esperança.
Mas então quais os partidos que irão assumir a responsabilidade, desta condenação?
Provavelmente nenhum.
O PCP e Bloco de Esquerda, não o poderão aprovar, pois o PEC, é um instrumento de destruição das suas caducas teses estatizantes.
O CDS, também não o irá aprovar, pois o seu líder tem pretensões a manter-se por mais alguns anos na política.
O PEC, irá ter assim o apoio expresso do PS, que suporta o seu líder José Sócrates e do PSD liderado por Ferreira Leite em final de carreira política.
O futuro líder do PSD, ficará assim livre de um comprometimento muito grave e liberto para em sintonia com o sentimento popular de revolta, fazer a oposição que lhe trará rapidamente a aspiração de governação. O partido unir-se-á nesta perspectiva de chegar ao poder.
A recandidatura de Cavaco Silva à Presidência da República ditará, um acordo tácito que interessa ao actual Presidente e ao seu partido de coração.
Haverá eleições legislativas antecipadas e marcadas no momento mais conveniente, não obviamente para o país, mas o partido e para a sua ambição de vitória.
Esse será o acordo.
O PS de Sócrates sairá assim derrotado. Tentará regenerar-se a tempo útil e condenará o seu actual líder a um lugar de prestígio de preferência no estrangeiro.
Ficarmos então com a condenação e com novos líderes partidários, que até poderão dizer, invocando discursos do passado que nunca estiveram de acordo com o PEC, que nos condenou.
O Presidente da República, que pelo seu silêncio e habilidade, conseguiu que no momento político actual se enraizasse esta convicção de que a responsabilidade é exclusiva dos partidos, também não será acusado e será reeleito.
Nem o Presidente, nem os actuais líderes partidários, nem os partidos políticos, serão responsabilizados pela condenação.
Depois saberão gerir a desgraça e saberão justificar a sua impotência, para alterar a condenação.
A capacidade de fugir à responsabilidades, é a grande permissividade deste regime, desta Oligarquia partidária, que usa o formalismo dos instrumentos de uma democracia, mas condena os seus princípios.
Enquanto não criarmos em Portugal, um regime e um sistema, que associe a legitimidade democrática à responsabilização dos políticos e das suas organizações, estaremos sempre sujeitos à mentira e à condenação.
Mas isso não convém aos partidos dominantes, nem à mediocridade e fragilidade dos políticos profissionais actuais.
O Regime está assim prisioneiro e por isso condenado também ele…pelo simples facto de tudo isto ser uma mentira e de tudo isto ser insustentável.
José J. Lima Monteiro Andrade.

1 comentário:

  1. Isto é que é uma análise indiscutível do nosso futuro próximo e muito útil para os que defendem a monarquia como forma de chefia de Estado independente das oligarquias políticas!
    Bem diferente dos "tiros" que tem andado a dar no movimento monárquico, por vezes com razão, mas de utilidade duvidosa para os que acreditam na Restauração. Parabéns!

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