quinta-feira, 6 de maio de 2010

A inacreditável Sociedade Anónima…Portugal S.A.

Ninguém tem dúvidas que o “Chairman” eleito pelos grandes accionistas (PSD e CDS) tem qualificação suficiente para ocupar o cargo de Presidente da Sociedade Anónima.
Professor formado nas mais prestigiadas Universidades Keynesianas, é a pessoa indicada para dirigir uma empresa inviabilizada pela sua crónica falta de competitividade.
Para o Chairman Cavaco Silva, homem de profunda presunção, nada disto será um problema, pois como “keynesiano convicto” a economia é uma ciência exacta e não há fórmula matemática que não resolva o problema mais bicudo.
Chegada a hora de escolher o Director Executivo, o Chairman teve de ceder a um outro grupo de grandes accionistas (PS) e simultaneamente apaziguando alguma instabilidade que os pequenos accionistas (Bloco e PCP) poderiam vir a causar.
O novo Director Executivo (Sócrates) escolhido, é um rapazola muito bem integrado na sociedade pós revolucionária, que através das “passagens administrativas” e outras facilidades, encontrou uma mina de credibilidade “ curricular”, que os trabalhadores não reconhecem, mas que satisfez a generalidade dos accionistas, também eles “novos ricos”, compradores das acções a saldo, desta triste Sociedade Anónima.
Apesar do Chairman, que apesar de tudo tem uma ténue raiz de ruralidade (portuguesismo), não gostar muito das gravatas e das tendências, do nomeado Director Geral, na sua enorme presunção e douta qualificação, pela sua cabeça nunca passaram dúvidas quanto à infalibilidade das suas equações matemáticas e por consequência de o protagonismo na salvação da situação critica da Sociedade, lhe estaria reservado.
Pôs então o Chairman Cavaco, mãos à obra num profundo estudo sobre qual era a melhor equação matemática, que melhor poderia resolver o problema mais grave da SA, que era no seu conceito douto, ter uma variável terrível…os trabalhadores ( portugueses), variável tão diferenciada que teve dificuldade de encontrar nos seus tratados de economia, outra qualquer que se assemelhasse.
Para este trabalho alugou um apartamento em Lisboa ( sede da Sociedade), mas não quis viver no Palácio que lhe reservaram, porque cultiva a ideia da modéstia pública, mas sobretudo porque a sua esposa não gostava dos azulejos, que considerava feios e frios. Como não podia passar sem o conforto da sua esposa, lá se isolou no seu apartamento.
O Director Executivo, ficou então à vara larga. Manipulou a Assembleia de accionistas a seu belo prazer ( Assembleia da Republica), convencendo todos de que a Empresa vivia num clima de grande expansão de negócios, distribuindo benesses, empregos e bons ordenados a todos os accionistas e conseguindo empréstimos bancários que lá iam suportando todo aquele carnaval despesista.
O Chairman a nada assistia, pois continuava isolado no seu apartamento, tentando desesperadamente encontrar a equação onde colocar a tal variável (trabalhadores= portugueses) tão inédita e tão diferente.
A Sociedade ia de vento em popa. Não conseguia novos mercados, nem aumentava a produção, menos ainda a produtividade, mas havia dinheiro e isso é que importava. Cada vez eram mais os “amigos” que beneficiavam de toda esta espantosa forma de gerir a empresa.
Os membros da Assembleia Geral ( AR) estavam esfusiantes com a sua empresa. Tinham agora como nunca, bons automóveis e viagens para beneficiar. O Director Executivo era quase um herói para todos estes provincianos “novos ricos”, pois nunca tinham pensado em que o seu investimento lhes traria tão rapidamente um retorno tão profícuo.
Havia algum mal -estar entre os trabalhadores, pois estavam mal pagos, já tinham dificuldades em pagar a renda da casa e viam chegar e partir os “executivos” e accionistas, com alguma inveja. Estes, pouco preocupados com o que sentiam os trabalhadores ( povo) e nem sequer tinham qualquer despeito em disfarçar as suas mordomias de donos e gestores da empresa. Ostensivamente chegavam à hora da interrupção laboral, e quando todos podiam assistir, chegavam no último modelo do mais caro topo de gama, da Mercedes, esperavam que o motorista fardado a rigor lhes abrisse a porta, saiam com solenidade pacóvia e acenavam para assistência com o necessário distanciamento que a sua condição impunha.
O descontentamento de alguns trabalhadores (portugueses) originou uma nova onda de mudança nos quadros laborais e o seu rejuvenescimento. Despediram-se os mais insatisfeitos e mais velhos (indemnizações), trocaram-se estes, por alguns amigos, filhos e sobrinhos dos accionistas. Acalmaram-se assim os descontentes, também os que ficaram com trabalho garantido e apaziguou-se o clima de crispação na empresa.
Ao Director Executivo subiu-lhe à cabeça todo este poder empresarial. Ele tinha de ficar na memória histórica e tinha de conseguir uma obra tal, que viabilizasse o seu mais íntimo sonho de vir a ter uma estátua com o seu “especial” busto, á entrada da sede da empresa.
Os accionistas e alguns outros quadros da empresa, teriam de lhe ficar eternamente reconhecidos. Os estrangeiros que visitassem a empresa e sobretudo a sede (Lisboa) teriam de ficar impressionados com tanto luxo, com tanta modernidade.
Auto Estradas, TGV, Aeroporto, Pontes e mais Pontes, tudo obras para uso exclusivo dos accionistas, dos quadros das empresas e para sua glória, pois os visitantes dessas outras empresas vizinhas (União Europeia) ficariam impressionados com a sua demonstração de como se pode viver bem, sem ser preciso essa “ louca ideia” de ter de produzir riqueza própria.
Foi então que um grupo de reformados e despedidos dos quadros da empresa, foram bater à porta do Chairman, para lhe dizer o que se estava a passar e que o Director Executivo estava com sonhos megalómanos que poderiam levara a empresa à total falência.
Ficou muito surpreendido o Chairman com o que o lhe diziam.
Disse-lhes que estava preocupado, mas que estava quase a encontrar a “equação” que resolveria o problema.
Por ocasião da festa de aniversário da fundação da empresa (25 de Abril) fez essa mesma declaração aos accionistas….acreditem em mim e na minha douta qualidade, estou quase a encontrar a “ equação certa”.
Todos aplaudiram o seu esforço, acreditaram no seu empenho e na sua capacidade doutoral.
Com algumas dificuldades de dar “garantias bancárias” para novos empréstimos o Director Executivo lá continuou de roda livre a alimentar o seu sonho e a continua e cada vez mais necessária distribuição de benesses e mordomias aos accionistas ( militantes partidários).
Surge então o problema. Uma Sociedade do mesmo ramo de negócio ( Grécia) e com grandes semelhanças de gestão, entra mesmo em falência. Os bancos que emprestavam dinheiro fazem então a declaração de que para aquele ramo de negócio o crédito passará a ser muito mais caro, pois é um ramo de elevadíssimo risco.
Ou entram noutro ramo de negócio e com outros critérios de gestão ou não haverá mais credito e exigimos os pagamentos integrais do que devem.
Não acreditou o Director Executivo nesta ameaça, que considerou simples manobra especulativa. Voltou a pensar através da mentalidade típica dos “pato bravos” da decda de setenta….se nos apresentarmos á sua porta com um automóvel topo de gama, na dúvida, voltarão a emprestar-nos de novo o que precisamos.
Vamos então continuar a anunciar as nossas grandiosas obras e vamos simultaneamente cortar nos salários para os impressionar com a nossa capacidade de contenção das despesas de produção e demonstrar que o nosso produto pode ser competitivo e ter venda.
Foi assim que chegaram as greves à Empresa que a paralisaram totalmente.
A empresa está agora fechada e os trabalhadores esperam, a resolução da Comissão dos Credores. Têm alguma esperança que decidam sobre a sua reabertura, mas não têm grande convicção…estão porém determinados de que se isso não acontecer…tomarão conta dela em auto-gestão.
Se isso acontecer, pode ser que a Sociedade volte à condição de País.
José J. Lima Monteiro Andrade

Sem comentários:

Enviar um comentário