A crise portuguesa somos nós.
Crise é hoje a palavra terrível, que todos pronunciam.
Mas o que é a crise, que crise? Conceito abstracto ou concreto?
Em Portugal ela ainda há bem pouco tempo era negada. Não convinha falar dela por motivos eleitorais.
Aparece subitamente vinda do exterior, gerada por uns vagos especuladores financeiros.
Apelidaram esta “crise” de internacional ou global. Politicamente ela é apresentada como a mãe de todas as outras, que entretanto iam chegando à luz do dia. A crise de emprego, a crise das empresas, a crise social, a crise financeira, a crise económica, a crise de valores.
Com a chegada de todas estas crises, tudo vale para impedir a crise maior, essa terrível crise política que seria a mais dramática de todas.
A “crise” é justificação, é desresponsabilização…é qualquer coisa que aconteceu fora de todas as previsões, que sobre nós se abateu e que teremos de ultrapassar. Ela encobre os erros, justifica a incapacidade e irresponsabilidade política.
Os portugueses aceitam resignados a sua apresentação. Basta a repetição “politicamente correcta”, que é a “crise” que nos impõe os sacrifícios, que origina o desemprego ou as falências, que todos teremos de aceitar essa malfadada circunstância, que nos caiu em cima como se de uma calamidade se tratasse.
A “crise” que nos caiu em cima, sem culpa de ninguém, é uma razão com tal consistência, que não vale a pena saber o que é, nem como veio, nem indagar das razões ou das responsabilidades.
Resta-nos chorar, talvez rezar e pedir a Deus que nos ajude.
Este conformismo nacional é o verdadeiro drama.
A “crise” está em cada um de nós e em todos.
O conformismo e a resignação, é afinal a essência da “crise nacional”.
Todos estamos disponíveis para aceitar as imposições de sacrifícios e quebra de direitos, como se de uma penitência se tratasse.
Penitência sobre pecados que não cometemos, que não quisemos que fossem cometidos e como tal tem apenas o significado de uma resignação. Um sinal de cobardia colectiva e de total submissão, que será inevitavelmente interpretado como apoio ou conivência.
Porém enquanto muitos sofrem e choram …. Alguns outros, a ela são indiferentes e dela continuarão a beneficiar. Porque não são responsabilizados, porque preservam os seus privilégios e o seu poder, porque podem continuar a esconder afinal a verdadeira face da crise portuguesa, porque ficam a salvo do julgamento sobre as suas responsabilidades.
Os pecadores conseguem assim a sua absolvição, condenando todo um povo, que por ser nobre não quer ainda acreditar, nesta violação dramática do mais elementar sentido da política, que é servir a população.
Muitos dos conscientes e até dos revoltados, acreditam na justiça das circunstâncias.
Também eles se mantêm em silêncio na expectativa de que toda a mentira se transforme numa situação de tal forma insustentável, que origine a sua queda final pelo abismo, para onde se conduziu este regime e este sistema político.
Outra forma de conformismo, mais grave ainda porque consciente.
A “crise” portuguesa somos nós e só a nossa atitude patriótica a pode resolver.
Esta é uma gravíssima crise, talvez a mais grave de toda a nossa História.
José J. Lima Monteiro Andrade
sábado, 15 de maio de 2010
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