quinta-feira, 18 de junho de 2009

Retratos de Portugal (2)

A simpatia não é um favor

Hoje tive um dia particularmente atarefado .
Andei toda a manhã a tratar de uma série de papelada, que me exigem para uma actividade que quero lançar .
Tinha uma reunião marcada para as três horas, mas achei que ainda conseguia ir ao notário reconhecer uma assinatura que me faltava .

Entrei no notário logo a seguir a entrarem os três funcionários, disse boa tarde, mas ninguém me respondeu nem sequer olharam para mim.
As duas funcionárias conversavam de pé, perto de uma janela uma delas meia sentada numa secretária, com um cotovelo em cima do monitor de um computador .
O funcionário desfolhava papeis e mais papeis de um montão enorme, sentado numa outra secretária, que também tinha um computador .

Comecei a ficar nervoso, porque ninguém me ligava nenhuma e eu tinha uma data de gente importante, para mim claro, à espera para a tal reunião .
Hesitei se não deveria desistir e vir noutra hora…mas assim ficava com o processo completo…julgava eu .
Bom completo nunca está, porque há sempre mais algum documento, mais uma assinatura, mais…, bom mas ficava completo para ser entregue e analisado e para que daqui a uns meses me informarem de como poderá vir a ficar completo, para finalmente ser avaliado.

Com um sorriso, o melhor que o meu estado de espírito permitiu, chamei a atenção às senhoras, para que me atendessem .
Com o ar mais natural deste mundo a mais nova e mais feia, diga-se a verdade, disse-me …o senhor tem de ter paciência, já vai ser atendido.
Eram já três e dez, eu já tinha tido dez minutos da mais submissa paciência.
Mas a senhora tinha dito aquilo num tom educado, pois não fora ofensiva, apenas achava que deveria ser eu, um simples cidadão a esperar.
Ouvi a história do marido da sua vizinha que anda a enganar a mulher.
Ouvi a outra a filosofar que o mundo está às avessas e que a culpa é das telenovelas brasileiras.
Soube ainda, que em tempos até tinha havido um programa brasileiro na TVI, que estimulava as infidelidades.
Mas como a senhora, a mais nova e mais feia, não tinha sido antipática nem agressiva, esperei que me atendesse e acreditei que não faltaria muito para ser atendido .
Que raio, eu precisava mesmo daquela assinatura reconhecida.
Tinha de me resignar e ter a tal paciência .
Eram já três e vinte e ainda não tinha entrado mais ninguém no Notário.
Pensei, esta não é decididamente uma hora de ponta dos Notários.
Aguenta e não refiles, pois a senhora até foi educada .
Mas…ela não tem obrigação de o ser…de ser educada?
Bom, acho que isso não é ainda um privilégio dos funcionários públicos…ensinaram-me que todos devemos ser educados e respeitadores …
Não resisti e chamei novamente a atenção das senhoras agora explicando….que estava com um bocadinho de pressa .
O ar com que se dirigiu para o balcão e na minha direcção não era de bons amigos. Deixou mesmo escapar…um «Huuufff», como quem diz que chatice .
Eram três e vinte e oito minutos, quando paguei uma pequena fortuna, por aqueles momentos .
Livra que agora reconhecer uma assinatura está um roubo.
Bom sejamos claros… não é só reconhecer uma assinatura que é um roubo.

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