quarta-feira, 28 de abril de 2010

A insistência na irracionalidade… o adiamento doloroso ou a condenação?

Tenho insistido que a crise portuguesa é muito mais profunda e grave, do que uma simples crise financeira. Pior, a crise financeira é o resultado acumulado de uma política insustentável, que impulsionou Portugal para uma situação de tal forma grave, que perante uma crise financeira internacional, nos vemos confrontados com uma total incapacidade de decisão autónoma que não seja cumprir os sacrifícios que nos impõem do exterior.
O que exigem de nós hoje, é contenção na despesa pública e a credibilidade necessária no cumprimento nesse objectivo.
O que nos exigem os mercados é apenas uma garantia real e credível para nos continuarem a emprestar dinheiro e não elevarem demasiado as taxas de juros desses empréstimos externos.
Exigem-nos moderação na despesa pública e receitas suficientes.
É preciso perceber que a moderação da despesa pública só vai ser possível, através da diminuição dos rendimentos actuais de mais de 6 milhões de portugueses, que vivem exclusiva e directamente do erário público.
É preciso perceber que estamos à mais de uma década em estagnação do desenvolvimento económico e que agora com todos os mercados em contenção, estamos ainda mais estrangulados nessa capacidade de crescimento.
É preciso perceber que estas questões determinantes para a situação crítica que agora vivemos, resulta de políticas insustentáveis protagonizadas por três partidos dominantes e irresponsáveis.
É preciso entender que a a ausência de credibilidade indispensável para assumir os compromissos que nos exigem os mercados, resulta do facto objectivo de que são esses mesmos partidos a querer manter a gestão das contas públicas.
A situação não pode continuar a ser escamoteada, nem adiada.
Tal como nenhuma entidade bancária continuaria a oferecer créditos a um empresário irresponsável e despesista.
Tal como nenhuma entidade bancária continuaria a dar crédito a uma empresa, que não tem mercado para os seus produtos, ou que não produz competitivamente para o mercado.
Tal como nenhuma entidade bancária continuaria a dar crédito a uma empresa para o pagamento de mordomias dos seus gestores e para despesas correntes, que não mostrasse garantias de produtividade.
Os actuais gestores das finanças públicas, os actuais governantes, os actuais partidos, não dão nenhuma destas garantias essenciais aos mercados.
A questão é assim exclusivamente política e não financeira.
Os partidos dominantes insistiram e comprometeram Portugal, num caminho insustentável.
São esses mesmos partidos que pretendem agora assumir a credibilidade internacional indispensável…uma impossibilidade.
A questão é assim de falência do sistema político e do regime.
Não podemos esperar que sejam esses partidos a reconhecer esta evidência. Eles são os responsáveis, mas também os beneficiários. Eles tudo farão para não perder o seu protagonismo e os seus benefícios.
Passos Coelho, o novo líder do PSD, dizia que votaria contra a proposta de resolução…mas agora presta-se já a aliar-se ao PS, na defesa do sistema.
Este novo líder, foi eleito no seu partido, através da mensagem de mudança.
Quem acredita hoje na sua credibilidade como protagonista dessa mudança exigível?
Não será o facto de dar a mão a Sócrates que irá aumentar essa credibilidade.
Nem nela acreditarão os portugueses e muito menos as “temerosas agências de rating”.
O resultado desta união política dos irresponsáveis que nos conduziram a este caos, poderá permitir um adiamento, mas nunca a solução, muito menos a mudança indispensável.
Os portugueses não serão mobilizáveis pelos causadores dos sacrifícios que os esperam, para o seu silenciamento e resignação.
Os portugueses exigirão responsabilidades a quem lhes retirou o sonho e a ilusão.
Esta defesa desesperada dos partidos dominantes e irresponsáveis, através da sua união promovida pela sua incapacidade de dar garantias externas suficientes, vai apenas originar o despertar das consciências dos portugueses, que terão de novo de voltar a assumir o poder da governação e dos destinos de Portugal.
Certamente irão surgir graves conflitos e agitações nesta expressão popular.
Os portugueses já há muito vinham sentindo que a ilusão teria de terminar, por isso a maioria já não se revê nos actuais partidos políticos e neles não acredita.
Estes partidos fecharam o sistema e o regime numa Oligarquia, que impede o surgimento de novas forças políticas e de projectos de esperança.
Ficamos bloqueados por este sistema que agoniza.
Que não tem crédito interno, nem internacional.
A tentativa desesperada de salvação, vai passar pela tentação de promoverem a transferência de credibilidade e de responsabilidade para a União Europeia.
Será o passo seguinte desta irresponsabilidade dos partidos dominantes.
Mas então a questão será ainda mais grave e preocupante…estaremos então a debater o verdadeiro e importante problema nacional.
A preservação de Portugal como Nação independente e soberana.
Esta é a grande questão histórica que se coloca aos portugueses, aos gregos, aos alemães e a todos os outros membros.
A União Europeia tem como única justificação humanística, a preservação da paz.
Mas a violência com que esta ambição legítima e natural, está a ser imposta em contraste com os direitos dos seus povos e das suas sociedades, constitui uma afronta gravíssima à sua dignidade e aos seus direitos de livre escolha.
Quem acredita que será possível a total submissão das identidades dos povos, perante objectivos que suscitam suspeições, dúvidas e retiram direitos, está redondamente enganado.
Acreditar em projectos que são germens de conflitos e não é defender o objectivo de paz.
José J. Lima Monteiro Andrade

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