segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

As panaceias políticas, que são disfarces.

Uma das técnicas políticas mais eficazes é o do lançamento de temas, que aparentam ir ao encontro do descontentamento, mas têm na prática o efeito contrário.
Esta semana foram lançados dois temas, que são exemplo dessa técnica de manipulação da opinião pública.
O da redução do número de deputados, que logo veio a seduzir, muitos dos críticos do actual sistema político.
Muitos viram nesta “panaceia” uma medida útil para eliminar o despesismo do sistema político e raciocinando apenas nesta perspectiva (cujos efeitos seriam mínimos na despesa das contas públicas), esqueceram a razão política de tal proposta.
Esta ideia, seria mais um importante reforço da dominância, dos partidos ( PS e PSD), pois o método de eleição proporcional ( método de Hondt), favoreceria essa maioria do chamado “centrão” e diminuiria substancialmente o número de deputados eleitos pelas outras forças partidárias. Mais grave ainda, iria tornar mais difícil ainda o surgimento de novas forças partidárias.
Esta “panaceia”, tem ainda como objectivo, desviar do debate constitucional, qualquer ideia sobre a essência da questão essencial, que poderia salvar a democracia, e eliminar a consolidação da actual Oligarquia partidária…a eleição directa por círculos uninominais e a possibilidade de candidaturas independentes.
O segundo exemplo, foi a polémica sobre a proposta do PSD, de eliminar num futuro governo o Ministério da Agricultura. Logo apareceu o CDS, a contestar esta obscenidade, utilizando apenas argumentos de natureza demagógica (não podemos abdicar da Agricultura como sector estratégico) e evitando com esta posição abordar a essência do problema agrícola nacional.
O Ministro da Agricultura é um mero Director Geral ou Gestor, de uma política da União Europeia e sendo esta a verdade indiscutível, sendo assim o Ministro, apenas um título honorífico…
O PSD reconhece isto e resigna-se a essa realidade, o CDS pretende manter uma aparência (o título de Ministro), como disfarce, sem ter a frontalidade de denunciar o facto importante, ou seja, de termos abdicado da nossa soberania, em sectores essenciais, como são a Agricultura e as Pescas.
Estes dois exemplos, são uma lamentável demonstração, de como os actuais partidos, preocupados apenas com a sua capacidade de influência e dominância, lançam no debate público nacional, temas como polémicas inúteis, que são meros disfarces, que evitam a abordagem das questões decisivas.
Será decisivo para a democracia a modificação do sistema de representação proporcional e de exclusividade partidária.
Como será decisivo para o nosso futuro, voltar a ter a capacidade de decidir por uma política agrícola e das pescas, que defenda os nossos interesses e preserve a nossa capacidade produtiva e os nossos equilíbrios ambientais e sociais.
A abordagem política destas questões através, da redução do número de deputados ou eliminação do Ministério da Agricultura e Pescas, não passa de disfarce.

José J. Lima Monteiro Andrade

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