Portugal viveu momentos de euforia em que rápida e facilmente se generalizaram conceitos ilusórios.
O Estado providência criou a ilusão social de uma garantia de nível de vida e da dispensabilidade de esforço, também da contenção, como forma de salvaguardar o usufruto de benefícios e de sonhos naturais.
O sentido de poupança foi desaparecendo da mentalidade familiar.
As ansiedades de consumismo cresceram a um ritmo acelerado e como resposta passou a doutrina oficial, do Estado, das Empresas e das Famílias, o recurso ao crédito.
Todos passamos a gastar mais do que os rendimentos que auferíamos e acima das possibilidades.
As Famílias não poupavam e recorriam ao crédito bancário, facilitado e fortemente publicitado.
As Empresas perante as facilidades recorriam ao crédito, não apenas para investimento avaliado, mas também para despesas correntes.
O Estado recorria ao crédito para garantir a ilusão do Estado Providência e da obra pública.
Os Bancos nacionais, recorriam ao crédito externo, porque a poupança nacional era insuficiente para satisfazer a procura, resultado das suas fortes campanhas publicitárias, num negócio florescente, que toda esta ansiedade consumista, promovida oficialmente proporcionava.
Os Bancos internacionais, aplaudiram e fomentaram esta dinâmica de endividamento nacional generalizado deste país liderado por provincianos, cujas ansiedades havia que aproveitar.
Três questões fundamentais colocam-se hoje aos partidos e dirigentes políticos:
- O reconhecimento da insustentabilidade de tudo isto, não pode afectar a confiança dos portugueses no regime e no sistema político.
- Como eliminar a ilusão consumista e do Estado providência, sem originar a tomada de consciência colectiva de que o sonho, vai passar a pesadelo.
- Como conseguir que uma sociedade cada vez mais empobrecida, contribua para aumentar as receitas do Estado, evitando a consciencialização colectiva de que tudo isto não é resultado de uma crise, mas sim um erro crónico, grosseiro e insustentável.
À ilusão consumista pretende-se dar uma resposta também ela totalmente ilusória.
A resposta às três questões vai ser dada através de restrições graves ao crédito ao consumo e por limitações, o mais disfarçadamente que for possível, ao Estado providência.
A mentira suporta a ilusão, mas a ilusão tem um tempo curto para se preservar.
A necessidade do Estado continuar a recorrer ao crédito externo para manter esta ilusão, vai acelerar cada vez mais a consciencialização da sociedade portuguesa da insustentabilidade deste processo louco.
O agravamento das penalizações e a exigência de novas contribuições, irá fazer aumentar não apenas a tomada de consciência da realidade, mas também o número dos revoltados que passarão a exigir responsabilidades aos políticos e aos agentes da falácia.
O fenómeno político de hoje é ainda caracterizado pela penalização do actual partido do governo e actual Primeiro-Ministro. O descontentamento ainda se irá transferir para uma ténue esperança no novo líder do PSD.
O adiamento está assim assegurado, mas poucos são os que acreditam na mudança, rumo à sustentabilidade.
Um país que não acredita, não tem qualquer hipótese de encontrar o rumo do desenvolvimento e do futuro.
Também é impossível a qualquer governo e a qualquer líder, governar uma sociedade descrente.
Solução? Ela só poderá surgir como resposta á generalizada indignação.
Só a expressão do descontentamento, poderá originar novas propostas, respostas e a apresentação de soluções.
Antes, a sociedade portuguesa terá de se libertar de toda a mentira, que politicamente correcta, no sentido de preservar o sistema e o regime, impede a liberdade de pensar e tomar consciência e em consequência a resposta política alternativa.
Porém o tempo ditará os comportamentos. A camuflagem da realidade, é cada vez mais difícil de manter e a surpresa negativa é sempre geradora da radicalização.
A mentira que pretende justificar o actual sistema e a ilusão da sua sustentabilidade, é também esse rastilho perigoso, pois favorece a receptividade aos radicalismos e às doutrinas políticas do passado.
José J. Lima Monteiro Andrade
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