sexta-feira, 25 de junho de 2010
Fernando Pessoa ainda está entre nós.
CARTA A UM HERÓI ESTÚPIDO
"...não há outro problema hoje de mais importância do que criar uma alma portuguesa. A antiga alma nacional, mesmo que ainda existisse, já não servia. É preciso, para que haja um Portugal Novo, haver uma Nova Alma Portuguesa.
...
Para que possa haver uma política nacional, uma cultura nacional, qualquer coisa nacional, seja o que for, o primeiro passo a dar é espiritual, é criar aquela fonte nacional donde essas coisas todas, depois, inevitavelmente partirão.
"Ora o dever de todo o homem que representa qualquer coisa nacional, hoje, é o de, afastado de toda a malandragem que faz política, prestar o seu auxílio, pequeno que seja, a essa criação de Portugal…
".... cada acto, cada gesto que um português hoje faça, e tenda a conservar, apoiar ou animar as forças dissolventes da nossa sociedade, que são os restos dos partidos monárquicos e quase todos os políticos republicanos, qualquer gesto, digo, que tenda a conferir a essa turba-multa de escroques e de imbecis um milímetro espiritual de prestígio, não só vale pelo facto maléfico de prestar auxílio a gente inteiramente desprezível e anti-patriótica (o que já de si é mau), mas pesa sobretudo porque contraria, ou tende a contrariar a obscura acção daqueles que, por muito amar a Pátria, querem ter Pátria para amar.
Isto, que aqui está, não é nada. Ponha no nosso passado olhos de homem que cumpriu o seu dever. Isto, que aí vê, satisfá-lo? Isto satisfaz alguém que não coma disto? ou que não seja um pobre instrumento nas mãos dos políticos? ...."
Fernando Pessoa, in "Carta a um Herói Estúpido", ed. Ática (Babel), Lisboa 2010.
Nota: Fernando Pessoa não recebeu o Prémio Nobel.
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