domingo, 26 de abril de 2009

A Contradição Europeia



A economia condiciona a vida e por consequência a política. Esta é a vida moderna e quanto a isto nada há a fazer.
A economia é o mercado e uma dimensão razoável deste mercado é essencial para a existência de empresas sólidas e rentáveis. Sobre isto também não há qualquer dúvida.
Foi esta a razão essencial que nos mobilizou para a Comunidade Europeia. Não teríamos condições de sobrevivência isolados e apenas no nosso território continental, após termos abandonado ou entregue, os territórios ultramarinos.
O mercado europeu e as suas políticas foram assim a justificação do mais importante passo político da história de Portugal, a integração europeia.
Esse acto de tão elevada importância histórica não mereceu a participação democrática de todos os portugueses, através de um referendo, precisamente porque todos os políticos tinham a convicção de que esse facto era desnecessário, tal era a inevitabilidade.
A integração europeia foi assim simultaneamente uma consequência, uma necessidade e também uma oportunidade de desenvolvimento.
Mas mal chegados a essa Europa tudo começou a mudar.
Também a Europa sonhou com um mercado maior acreditando que isso levaria ao reforço das suas empresas e a novas oportunidades.
Aderiu à Organização Mundial de Mercado e ajudou a criar a dinâmica da globalização da economia mundial.
Alterou então todas as suas políticas consistentes e de inegável êxito.
A Política Agrícola Comum sofreu profundas mudanças sucessivas num caminho da sua extinção. A globalização assim o exigia.
Portugal não teve tempo de beneficiar dos estímulos dessa politica e a agricultura portuguesa sofreu feridas de morte, que levou a uma situação perfeitamente inaceitável de não termos sequer capacidade produtiva para ter uma “reserva alimentar mínima” que também é uma garantia essencial de soberania.
A própria Europa chegou ao ponto de ter apenas uma reserva alimentar que não ultrapassa os 40 dias.
Tudo isto para tentar explicar a irresponsabilidade da tomada de alguns caminhos sem a necessária ponderação e sem a mínima consciência social, porquanto a população na generalidade desconhece estes factos reais.
Os princípios da Unicidade de Mercado, da Solidariedade financeira e Social foram pura e simplesmente abandonados, apenas se mantendo alguns Fundos complementares de apoio ao desenvolvimento.
A Europa tem hoje o primeiro sério aviso sobre o elevado risco da sua politica.
A crise mundial trouxe a luz as contradições.
As políticas sociais europeias não permitiriam nunca estar numa economia globalizada em que alguns dos principais intervenientes não tinham essas políticas, nem os seus encargos. Uma empresa europeia terá sempre custos de produção mais elevados, do que aquelas mesmas empresas instaladas nas grandes potencias emergentes e também grandes beneficiárias da globalização.
A Europa acreditou que com o tempo essas potências adoptariam o seu sistema político e social e assim podiam equilibrar a concorrência. Uma ingenuidade grave, mas infelizmente muito frequente em política.
Portugal sofre estes efeitos de uma forma muito mais intensa e muito mais profunda.
Tal como aconteceu com a politica financeira do actual governo, que nos espartilhou a todos com o “objectivo do Deficit”, que agora após a legislatura está agravado, também o caminho europeu na ânsia da globalização, terá de encarar esta realidade, ou seja a dinâmica económica e empresarial europeia está abaixo do nível, anterior aos acordos do mercado mundial.
Poderá a Europa persistir nesta política, ou inverter e recuperar as suas políticas de êxito. Tudo dependerá da qualidade dos actuais políticos, sendo certo que persistir no caminho anterior é persistir numa contradição, que dificilmente poderá trazer outras consequências que não sejam graves conflitos mundiais.
Portugal dos pequenos políticos seguirá esta Europa, como um menino bem comportado, que apenas anseia o pequeno prémio pela sua atitude de bom comportamento.

Tudo poderia ser substancialmente diferente e melhor se voltassemos a acreditar na nossa identidade, nas nossas potencialidades, nas nossas qualidades humanas e também se tivessemos orgulho na nossa História.

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