domingo, 26 de abril de 2009

O desfasamento do Sr. Presidente


Também as comemorações do 25 de Abril foram afectadas pela “crise”.
Foi evidente que em todo o país se vibrou compreensivelmente muito menos, com essas comemorações.
O discurso do sr. Presidente da República é também ele sintomático quanto ao afastamento enorme que separa as convicções dos políticos, daquelas que o povo tem.
O sr. Presidente apela à responsabilização partidária, ao realismo das propostas eleitorais e ao voto dos eleitores.
O presidente da República ao fazer este apelo reconhece implicitamente que tem havido irresponsabilidade política e propostas falaciosas. Nisto todos estamos de acordo com ele, o que não entendemos é o sentido do apelo.
Quem vai agora acreditar? que os mesmos intervenientes, dentro do mesmo enquadramento de obrigações e responsabilização dos mesmos políticos, só porque o sr. Presidente apelou à sua seriedade, irão ter uma conduta mais aceitável.
Será que a suspeição generalizada sobre as qualidades humanas do actual Primeiro- Ministro, fica sanada pelo apelo do Presidente da Republica?
Será que alguém acredita que o actual Primeiro-Ministro passará a ter um mínimo de sentido de Estado, a partir do apelo do Presidente da República?
O Presidente da República disse ainda que os Partidos terão que se entender, perante as dificuldades que o país atravessa nas soluções.
Pretende o Presidente desde já responsabilizar os partidos pelos entendimentos governamentais após as Legislativas. Ele sabe a elevada probabilidade da “batata quente” da instabilidade política lhe vir parar às mãos.
Este aviso do Presidente da República é revelador da sua postura futura.
Mais uma vez é aos Partidos que estará reservada em exclusivo toda a gestão da nossa incipiente e frágil democracia.
Só que a instabilidade previsível, que tanto aflige o Presidente da República, vai acontecer no momento mais baixo da convicção popular para com os Partidos e para com o sistema. Vai acontecer num momento em que muitas famílias estão já em desespero.
Cada vez mais portugueses estão descrentes quanto ao sentido de responsabilidade do seu voto.
Cada vez são menos, os que acreditam que o seu voto pode contribuir para uma mudança.
Este é o processo do actual sistema constitucional português.
Os partidos políticos entraram em descrédito progressivo, porque colocaram homens pequenos na sua liderança, porque as dinâmicas internas partidárias a isso induzem.
O sistema apenas baseado nestes partidos e sem capacidade de rejuvenescimento partidário, ocasiona a total ausência de esperança dos eleitores.
O voto, essa arma essencial da participação e da responsabilização individual, é assim totalmente desrespeitado e a democracia vai sofrendo feridas profundas que a agonizam.
Como bem disse o Presidente da República é a legitimidade democrática que fica em causa se não for travada a abstenção.
Só que a abstenção tem um outro sentido, que o Presidente da República não vê ou não quer ver.

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