sábado, 1 de agosto de 2009

Retratos de Portugal (4)



As Festas Populares


O Verão faz transparecer em todo o Portugal tesouros bem guardados na alma dos portugueses. São as Festas populares das Aldeias e Vilas deste tão singular país.
Essas festas são o orgulho do Presidente da Junta de Freguesia, que sendo entre todos os eleitos o mais responsabilizado directamente pelo povo, é simultaneamente o mais desprezado na sua função, pelo Código Administrativo. O seu empenho e dedicação, foram contributo essencial para que a Festa se realizasse, pois ela é uma exigência de toda a população. Para que isso acontecesse, teve de ir inúmeras vezes à sede do seu Concelho, à Câmara Municipal, tantas vezes de “chapéu na mão”, implorando o apoio prometido. O seu coração é o mais acelerado, logo que estala o morteiro e começam os sinos da Igreja a badalar. É o sinal de que as Festas vão começar.

Foi à Associação Recreativa e Cultural que competiu toda a logística da organização. A Instituição é a estrutura essencial para juntar vontades e coordenar toda a generosidade que produz como resultado, aquele momento glorioso anual, de alegria e convívio.

O Rancho Folclórico local, que até já actuou no estrangeiro e já foi à televisão encara a sua a presentação na sua festa como a mais importante de todas as actuações. Eles são o orgulho dos seus familiares e para eles nada há de mais importante, do que actuar para aqueles que como eles sentem aquele incrível sentimento da arte popular.

A Banda de Música abre a Festa desfilando a caminho da Igreja, serão eles que irão marcar o compasso da Procissão. Jovens, muito jovens até, integram aquela Banda e juntamente com outros onde se integram ainda alguns idosos, mesmo muito idosos, todos muito compenetrados dentro das suas fardas, também eles muito orgulhosos por pertencerem àquela escola de cultura musical mantida saberá Deus, à custa de tantos sacrifícios e de tanta dedicação.
Jubila com uma homilía esfusiante, o Padre moderno, que soube interpretar magnificamente a simbiose entre a religiosidade e o festejo profano. A fé sai reforçada, a alegria e a motivação também. Encheu-se por completo a Igreja, apenas alguns lugares da frente se mantêm reservados esperando a chegada dos políticos, que invariavelmente chegam atrasados. Respeita-se com esta referência de destaque aos representantes da administração pública, uma tradição que deriva do respeito popular pelo nobre serviço, para com aqueles que com generosidade se sacrificam através da sua dedicação ao serviço da colectividade.

Chegam em grupo com os seus fatos cinzentos, quando o Pároco já se prepara para subir ao púlpito. Acompanham a Procissão logo atrás do andor do Santo Padroeiro. As suas faces e o seu olhar fixo no chão, mostram uma solenidade, que disfarça qualquer sentimento de ausência de fé, tentando demonstrar sintonia e afinidades. A população reconhece a sua atitude e agradece a sua presença.
Depois todos vão para o largo da Festa, onde já cheira a churrasco e sardinha assada.

Há música nos altifalantes, há quermesses que vendem rifas que dão prémios engraçadíssimos.
Este ano certamente a ASAE não aparecerá. É ano de eleições, os políticos estão presentes, não convém afrontar demais e por esse facto há mais tendas a servir comida e bebidas. A festa está bem mais animada.
A alegria está presente no rosto de todos, fala-se alto e alegremente, o convívio é fantástico. Perante todo este informalismo têm agora os políticos presentes maior dificuldade de se adaptarem. Juntam-se em pequenos grupos de afinidades partidárias, alguns despem os casacos, sem arregaçar as mangas das camisas brancas.

Alguns mais experientes já se esgueiraram a caminho de casa, pois já tiveram a oportunidade de ser notados, os que ficaram são os mais novos, a quem os outros aconselharam a ficar. A representatividade partidária fica assim assegurada. Adoptam uma postura de grupo isolado, sorrindo e cumprimentando todos os que por eles passam, como seres exóticos incapazes de se interligarem.

Ninguém lhes leva a mal, todos respondem aos cumprimentos com simpatia, mas também não lhes ligam lá grande coisa. O correlegionário lá da terra, reservou-lhes uma mesa e agora já sentados, sentem muito mais confortáveis.
No palco já actua o Rancho da terra e aplaudem os políticos cada número da sua actuação, fazendo os comentários a propósito, para que alguns que estejam perto percebam o seu entusiasmo.

Entretanto colocaram-lhes umas fatias de pão caseiro e um prato de sardinhas assadas, que lhes deu sérios embaraços pois nem talheres havia e com gestos muito delicados lá tiveram de se desembaraçar do peixe mal cheiroso, mas sem conseguirem disfarçar lá muito bem, a sua falta de apetência, para beber aquele “tinto carrascão”.
Ao anunciar da fadista local, já os nossos jovens políticos se preparam para abandonar a festa. Eles são sempre os últimos a chegar e os primeiros a partir.

Já comentam entre si …”o povo ainda é muito atrasado…muita coisa há ainda para fazer”. Aproveitam o anúncio do artista principal para se despedir. Ter de “gramar” o Tony Carreira, é demais para os nossos jovens políticos. Como pode o povo gostar destas canções “pimba”, cantadas numa língua que não soa bem, de versos construídos por lamúrias amorosas?
Ninguém leva a mal a sua saída, toda a gente está divertida e deles se despedem com sincera simpatia. Foi muito bom que tivessem vindo, a continuidade da festa está garantida e isso é o mais importante.

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