domingo, 19 de julho de 2009

Ao que chegamos




António Barreto publica hoje um artigo no jornal o Público de grande sentido. Ele levanta como principal preocupação política nacional, a questão da “corrupção” dos partidos, políticos e do sistema.

Ele afirma claramente… “a corrupção é legal, tem apoio partidário e parlamentar” e ainda…”a corrupção é remunerada e paga a recibo verde”.

A primeira afirmação justifica-a através das nomeações para os altos cargos da administração pública, feita pelos governos a membros dos partidos, a segunda pela nomeação do elevado número de “assessores”, que todos os partidos chegados aos governos, têm a liberdade de colocar.

António Barreto mais uma vez tem toda a razão, ao dizer que o partido que proponha na próxima campanha eleitoral, o duplo compromisso de acabar com as nomeações partidárias para a Administração Pública e simultaneamente limite o número de assessores de nomeação, merece ter a maioria absoluta.
Esta verdade merece a nossa profunda reflexão, para além da razão que indiscutivelmente tem António Barreto.
A questão essencial actual não é a nossa escolha eleitoral, para com um “Programa de Governo”, ou perante a credibilidade dos candidatos no que respeita aos compromissos de governação, mesmo perante uma gravíssima crise económica e social.
A questão essencial é a questão do regime, dos privilégios partidários e dos políticos.
O que está verdadeiramente em causa na democracia “à portuguesa” já não é a governação dos próximos quatro anos, pois passa a questão de menor importância, face à desfaçatez ética e moral dos políticos, dos partidos e do regime.
É o assumir da verdade indiscutível de que nenhum partido deve merecer a nossa confiança, enquanto não assumir um compromisso eleitoral irrevogável para com o eleitorado, de se colocar ao serviço da governação e não ao serviço dos seus militantes, como empregador e distribuidor de favores e benefícios.
A permissividade do actual regime, para com os interesses pessoais, dos militantes dos partidos dominantes e perante o relacionamento perverso destes com os principais agentes económicos, condenou a sua credibilidade popular e isso é uma responsabilidade exclusiva dos partidos políticos dominantes, que com a sua atitude, continuam a fazer o mais grave e lesivo dos ataques ao que dizem defender, a democracia.
Isto é tão grave que teremos de dar inteira razão a António Barreto, que neste seu artigo faz um derradeiro apelo de bom senso aos partidos do sistema, mas que nos conduz a todos a uma triste conclusão…o verdadeiramente importante, mesmo perante o desespero de uma grave crise, não são as propostas politicas, mas a limitação das ansiedades dos políticos e dos seus interesses pessoais, de forma a ainda podermos aspirar a acreditar, a que possam surgir homens, que assumam uma postura de serviço público independente e desligada dos seus interesses particulares.
Mas não sou tão crente como António Barreto, pois não acredito que nenhum dos partidos dominantes tenha condições de fazer as propostas que sugere, pelo simples facto de que é o actual regime constitucional, que a tudo isso é totalmente permissivo.

A grave questão levantada, não se resolverá nunca através de propostas legislativas, que pressupõe ser feita pelos próprios partidos, que baseiam toda a sua força tendo como base aglutinadora precisamente essa premissa básica, que é capacidade de distribuir favores aos seus militantes e de lhes conferir o estatuto da riqueza.

A questão da promiscuidade politica e da corrupção, só pode ser encarada com rigor em Portugal, quando se concluir que há valores base essenciais que devem merecer estatuto de preceito constitucional, que o actual sistema semi-parlamentar está na base de toda a permissividade, assim como o facto, do principal responsável pela Estado e pela Nação, ser uma personalidade eleita sob proposta e apoio partidário, ou seja lhe estar á partida negada a possibilidade de ser totalmente livre e totalmente independente das influencias partidárias, que só um Rei poderá ser.

1 comentário:

  1. Gostaria de informar que tomei a liberdade de colocar o seu post neste forum:

    http://mereo.forumaster.net

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